Soldado e Tenente-Coronel dão suas versões sobre suposto atropelamento

O Policial Militar lotado em Timon/MA, Alexandre Leite e o TC Márcio Santos, falaram sobre suposto atropelamento. 

O policial atingido pela viatura do Bope na noite do último sábado (13), durante manifestação da PM, Alexandre Henrique Rios Leite, conversou com o CidadeVerde.com e deu a sua versão dos fatos. “Foi uma coisa absolutamente banal. Eu fui comer uma pizza com minha esposa e filha, ali perto e quando passei verifiquei que tinha reunião de militares em frente ao Rone. Fui em casa e depois me desloquei até lá, às 22h. Estava no canteiro central e as viaturas começaram a sair. Essa parou e eu fui atravessar, ela quis andar e foi quando me espantei e escutei dizendo ‘pode passar por cima’. Não me lembro mais de nada. Só acordei na ambulância”, descreve o militar. 


Alexandre diz que foi transferido do HUT para a Clínica Santo Antônio porque teria de esperar por uma cirurgia no pulso apenas para quinta-feira. “Mas o que me entristece é que ninguém do governo e da polícia veio me ouvir. Só ouviram o oficial. A gente, quanto militar, aprende que temos que respeitar as leis. Independente de ter sido crime ou não, ele não prestou socorro. Vamos sim buscar responsabilizar o coronel Márcio penalmente, administrativamente e civilmente”, garante. 
Segundo o tenente Marcelo Anderson, diretor financeiro e relações públicas da Associação dos Bombeiros Militares Estado do Piauí (Abmep), a viatura do Bope, não prestou socorro à vitima e não pediu ajuda.

“Ele (Alexandre) foi projetado, arrastado por aproximadamente 50 metros e depois o carro foi freado bruscamente. O condutor é desconhecido, o nome é ignorado, mas quem mandou o arranque e o atropelamento foi o tenente-coronel Márcio Oliveira Santos, comandante do Bope. A guarnição saiu do local, se omitiu. Terceiros fizeram a solicitação do resgate. Quando eu cheguei lá, ele estava inconsciente, com uma lesão perfurante na cabeça, lesões pelo corpo, fratura óssea no pulso, que segundo o ortopedista atendeu, fará com que ele tenha uma lesão permanente”, assegura o tenente. 

Outro lado
 
O tenente-coronel Márcio Santos, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) – responsável por grupos como o Rone, Gate, Gtap e Canil – também falou com o CidadeVerde.com sobre o episódio. “Após a decisão judicial, o comandante da PM determinou, através de memorando, que fosse informada a ilegalidade da greve a todos os policiais e que aqueles descumprissem, estariam descumprindo não só uma determinação militar mas judicial. Me dirigi com o capitão Fábio Abreu para o Rone. Somente quatro viaturas, a do capitão Abreu, e mais três seguiram para o serviço no turno das 20h até 1h”, conta. 
“Como os policiais disseram que não iam tirar serviço. Eu disse: ‘pois não tem problema, coloquem o armamento de volta na reserva, quem quiser ficar, fique, quem quiser ir embora vai, agora, vai ser constado no livro e levado ao comandante de policiamento da capital’. Neste momento, com certeza, alguns deles entraram em contato com os manifestantes e criou-se uma aglomeração de mais ou menos cem pessoas em frente ao quartel do Rone”, narra. 
Santos explica que, em seguida, as quatro viaturas das Rone e a sua começaram a sair do quartel. “Eu saí por último, fechei o portão e recomendei ao pessoal da guarda do quartel que não deixasse entrar ninguém que não estivesse fardado ou queira entrar no serviço. Neste momento entrei na viatura, eles cercaram, e um deles subiu na viatura. Ele mesmo subiu na viatura parada. Disse para o motorista: ‘vá andando devagarinho que logo ele sai daí’. E assim fomos saindo devagarinho, eles batendo na lataria do carro. Uns 20 metros depois, quando estávamos distantes do portão, ele mesmo pulou da viatura para fora e eu segui em frente, no meu serviço naturalmente”, descreve o comandante do Bope. 
Coronel Santos disse que apenas hoje ficou sabendo pelo rádio que uma pessoa tinha se machucado na manifestação. “Imediatamente comuniquei ao comandante da PM. Não percebi se ele se machucou, porque saiu andando e foi para junto dos outros manifestantes. Retornei para o meu serviço e continuei até às 4h da manhã. Depois que assumi o serviço, às 8h30, me dirigi ao 2º DP porque soube que estavam dizendo que tinha atropelado um policial – que só vim saber que era policial depois – do Maranhão, que não tem nada a ver com a polícia daqui. Prestei um B. O. narrando todo o fato”, descreve. 
O comandante do Bope diz ainda que o cerco dos policiais militares piauienses à sua viatura foi ocasionado porque os manifestantes não queriam deixar que as quatro viaturas do Rone saíssem para seu serviço. “Eles ficaram revoltados porque conseguimos convencer alguns a sair. Ele subiu em cima do capô, a gente tava se afastando e pulou depois. Não tenho nada a ver. Foi um ato pessoal dele. Eles eram mais de cem, poderiam atentar contra a integridade física dos componentes da minha guarnição”, enfatiza, acrescentando que não tem medo de ser acionado judicialmente.
“Eu não estou fazendo greve ou baderna. Ele que arcou o risco ao subir da viatura e depois se jogar. Eu não passei por cima dele. Desde o dia 10 estou todos os dias de serviço. Estávamos funcionando apenas duas viaturas do Gate, a minha do bope, uma do canil e uma do Gtap, a gente cobrir toda a capital com seis viaturas, onde geralmente tinha 70. Quem não quer trabalhar não trabalha, mas não pode deixar quem quer não trabalhar”, finaliza.

Movimento
 
O presidente da Associação dos Oficiais Militares do Piauí (Amepi), capitão Evandro Rodrigues, diz que este episódio e a ilegalidade da greve definida pelo Tribunal de Justiça, não enfraquecem as manifestações. “A greve não pode ser ilegal simplesmente porque não há greve. O movimento não retrocede, continua mais forte. Estamos começando a receber a visita de líderes nacionais de todo o Brasil. Seis deputados federais estão vindo nos dar suporte”, pontua. 
Rodrigues acusa o comando da PM de ser conivente com o caso. “O comandante mandou abrir a corregedoria para o coronel Santos recebê-lo de forma especial para fazer a oitiva e liberá-lo. Será que a omissão de socorro não é crime? Foi conivente. O comandante do Bope comete um crime. Primeiro, se evadiu do serviço, é abandono de posto, crime militar, e depois teve a tentativa de homicídio”, assinala.

Fonte: CidadeVerde.com