Cerca de 30 recrutas devem deixar hospital no Rio até terça, diz Marinha

Ao todo, 57 jovens estão desde o dia 17 no Hospital Naval Marcílio Dias. Grupo passou mal após curso em Campo Grande, na Zona Oeste. 

O grupo de 57 recrutas do Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil segue internado no Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD), no Lins de Vasconcelos, subúrbio do Rio. Segundo a assessoria do comando do 1º Distrito Naval, cerca de 30 recrutas devem receber alta nesta segunda-feira (22) ou na terça (23).
Como as visitas são permitidas apenas na parte da tarde, as famílias dos jovens estão na expectativa da alta dos recrutas ou da transferência do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para o quarto. Esse é o caso de Haroldo Silva Júnior, tio de um dos recrutas internados. "Estou aqui para saber se meu sobrinho vai ser transferido para quarto de enfermaria. Vim ontem também e ele já estava bem melhor, desinchado, mas continua fazendo hemodiálise. Ele teve quadro de insuficiência renal", afirmou Haroldo na porta do Hospital Marcílio Dias.
Haroldo Silva Júnior, tio de um dos recrutas internados no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio (Foto: Mylène Neno/G1)
Haroldo Silva Júnior, tio de um dos recrutas
internados no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio
Ainda de acordo com Haroldo, a Marinha ainda não entrou em contato oficialmente com as famílias dos recrutas para explicar o que ocorreu. "O tratamento do hospital está sendo muito bom, mas do comando da Marinha ninguém se pronunciou. MInha família não foi procurada e espero que seja dado algum esclarecimento", contou, acrescentando que o sobrinho está "traumatizado" e pensa em desistir do curso.
"Sabemos que houve algum problema lá (no local do curso), porque 57 garotos não podem ter passado mal por nada. Alguma coisa inadequada aconteceu, isso é inadmissível. E tenho certeza de que a Marinha não quer que isso aconteça. Alguém tem que se responsabilizar por isso", concluiu Haroldo, antes de entrar no Hospital Marcílio Dias para ter notícias e visitar o sobrinho.
De acordo com informações divulgadas no domingo (21) pela assessoria da Marinha, os jovens, que deram entrada na unidade no último dia 17, "apresentam boa evolução clínica e continuam recebendo a necessária assistência médica".
O Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais teve início no dia 8 no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (Ciampa), em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, com 637 alunos matriculados.
Ainda de acordo com a Marinha, todos os recrutas encaminhados ao hospital apresentam sintomas de síndrome respiratória, sendo um deles com um quadro de insuficiência renal. Outros dois alunos que ainda permanecem no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) "respondem de modo satisfatório ao tratamento, apresentando melhoras".
Ricardo Manhães esteve no Hospital Naval Marcílio Dias para protestar contra a morte de seu enteado em curso de formação de fuzileiros (Foto: Mylène Neno/G1)
Ricardo Manhães esteve no Hospital Marcílio Dias
nesta segunda (22) para protestar contra a morte
de seu enteado em curso de formação de fuzileiros
No início da tarde desta segunda-feira (22), o engenheiro aposentado Ricardo Manhães esteve no Hospital Naval Marcílio Dias para protestar e prestar solidariedade às famílias dos recrutas internados. Segundo ele, seu enteado morreu durante treinamento do mesmo curso no Ciampa em março de 2010. "Ele entrou no dia 20 de fevereiro e veio a falecer em 2 de março do ano passado. Segundo o atestado, a morte foi causada por complicações cardíacas. Mas ele já tinha passado mal três vezes no curso e falava sobre os exercícios puxados. Por sorte não morreu ninguém dessa vez", afirmou Manhães.
"Uma coisa é um homem em boas condições físicas, outra coisa é querer que ele seja um super-homem. Tem que ter uma mudança de mentalidade, não se forma um atleta da noite pro dia", disse, acrescentando que o enteado praticava esportes e tinha boa saúde ao entrar no curso de formação de fuzileiros.
Falta d'água
A família de um dos rapazes internados na CTI acusa a coordenação do curso de impedir os praças de beber água. "Ele viu muitos alunos desmaiando, passando mal, não tinha nem água no cantil", conta o pai, com base nos relatos do filho.
Em resposta, a Marinha comunicou que "no primeiro dia do curso de formação, todos os recrutas receberam cantil, porta-cantil e cinto para se hidratarem com água filtrada, quando não estivessem próximos de bebedouros e pontos de água potável distribuídos. Os instrutores do curso repassaram aos alunos que somente era permitido reabastecerem os cantis em fontes autorizadas de água tratada".
O órgão adiantou também que, em ação conjunta com a Secretaria municipal de Saúde do Rio, investiga a causa da síndrome que acometeu os recrutas e que estão sendo tomadas todas as medidas de vigilância, prevenção e controle dos sintomas, já tendo sido iniciado o processo de vacinação preventiva de toda tripulação do Ciampa.